BEBÊ REBORN E LOGOTERAPIA
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A febre dos bebês reborns: o que está por trás da objetificação emocional?
A crescente popularidade dos bebês reborns desperta curiosidade, encanto e, para muitos, conforto emocional. Mas até que ponto essa relação com bonecas hiper-realistas pode refletir uma dor não elaborada, uma fuga psíquica ou mesmo um transtorno mental? Neste artigo, vamos explorar, sob a luz da logoterapia de Viktor Frankl, as motivações profundas por trás da febre dos bebês reborns e os impactos psicológicos da objetificação de sentimentos humanos.
Letícia Santana
19.maio.2025 | Tempo de leitura: 10 minutos
BEBÊ REBORN E LOGOTERAPIA
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A febre dos bebês reborns: o que está por trás da objetificação emocional?
A crescente popularidade dos bebês reborns desperta curiosidade, encanto e, para muitos, conforto emocional. Mas até que ponto essa relação com bonecas hiper-realistas pode refletir uma dor não elaborada, uma fuga psíquica ou mesmo um transtorno mental? Neste artigo, vamos explorar, sob a luz da logoterapia de Viktor Frankl, as motivações profundas por trás da febre dos bebês reborns e os impactos psicológicos da objetificação de sentimentos humanos.
Letícia Santana
19.maio.2025 | Tempo de leitura: 10 minutos
Nos últimos anos, o fenômeno dos bebês reborns tem ganhado espaço nas redes sociais, em feiras de brinquedos e até mesmo em grupos terapêuticos. Bonecas hiper-realistas, confeccionadas artesanalmente para se assemelharem a recém-nascidos, estão sendo compradas não apenas por colecionadores, mas por pessoas que as tratam como bebês reais: dando-lhes nomes, alimentando-as com mamadeiras, trocando fraldas e as levando para passear em carrinhos. Essa relação afetiva com o objeto levanta questionamentos importantes na psicologia clínica e existencial.
Sob a ótica da logoterapia, desenvolvida por Viktor Frankl, o ser humano é movido por uma necessidade fundamental: encontrar sentido para sua existência. Quando esse sentido é interrompido ou frustrado — seja por uma perda gestacional, infertilidade, abandono, ou traumas familiares — o indivíduo pode buscar substituições simbólicas para preencher o vazio existencial. Nesse contexto, o bebê reborn pode se tornar um “atalho emocional”, um modo inconsciente de evitar o sofrimento, a elaboração da dor e a responsabilidade afetiva.
A objetificação dos sentimentos é um fenômeno que preocupa profissionais da saúde mental. Tratar um objeto como sujeito pode representar uma dissociação psíquica, na qual a pessoa se distancia da realidade para evitar entrar em contato com frustrações profundas. O perigo reside no fato de que a boneca, por mais realista que pareça, não devolve afeto, não desafia, não exige. Diferente de um filho real, que demanda presença, tolerância, escuta e crescimento emocional, o bebê reborn oferece uma relação unilateral, idealizada, sem riscos de rejeição ou fracasso.
Outro ponto relevante é a fuga da responsabilidade. Para algumas pessoas, o reborn é uma forma inconsciente de substituir um filho que se deseja mas não se pode ter, ou que se perdeu por alguma circunstância. Ao evitar o luto, a dor, ou mesmo a aceitação da impossibilidade da maternidade, o indivíduo opta por uma fantasia que mascara a falta de sentido real. Segundo Frankl, a recusa em enfrentar a dor é uma forma de “neurose noogênica” — uma neurose do sentido — na qual o sujeito se torna incapaz de encontrar significado em sua experiência humana.

Não se trata de patologizar o uso dos reborns, pois há situações em que eles podem ser usados como recursos terapêuticos controlados, por exemplo, em idosos com demências ou em tratamentos pontuais de luto. O problema surge quando a substituição se torna permanente e quando a boneca passa a representar uma recusa em lidar com a vida como ela é. O excesso de apego emocional ao reborn, aliado à negação do sofrimento e da limitação, pode indicar um quadro clínico que exige atenção psicológica.
Para quem está vivenciando esse tipo de vínculo com um reborn, é fundamental buscar apoio psicoterapêutico. A logoterapia oferece ferramentas potentes para ajudar o indivíduo a elaborar suas perdas, encontrar propósito no sofrimento e assumir responsabilidades afetivas de forma madura. Encarar a dor é parte do processo de crescimento. Como dizia Frankl: “O sofrimento deixa de ser sofrimento no momento em que encontra um sentido”.
Em tempos em que o vazio existencial se manifesta em diferentes formas — seja por meio da ansiedade, da depressão, do burnout ou de comportamentos de fuga — é urgente promover uma escuta clínica que acolha essas expressões simbólicas de dor. O bebê reborn pode ser um espelho do que falta, mas também um convite a olhar para dentro e construir um novo sentido para a vida.


Conheça a Santosclín
A Santosclín é a primeira clínica de Psicologia e Logoterapia do Vale do Paraíba, oferecendo um atendimento humanizado em psicoterapia e acessível para quem busca equilíbrio emocional, propósito de vida e autoconhecimento. Nossa missão é diminuir o índice de ansiedade e depressão da cidade em que atuamos, proporcionando um espaço acolhedor onde cada pessoa possa encontrar sentido para sua existência.
Na Santosclín, acreditamos que a transformação começa no interior de cada um. Se você busca um novo olhar sobre a vida, estamos aqui para caminhar com você!
Referências bibliográficas:
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- FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 2009.FRANKL, Viktor E. Psicoterapia e sentido da vida. São Paulo: Quadrante, 2011.GUIMARÃES, J. R. Sentido da vida e logoterapia: compreensões atuais. Revista Brasileira de Psicologia, 2020.
- SILVA, L. M.; MOREIRA, J. Psicologia do consumo afetivo: entre o desejo e a fantasia. Psicologia & Sociedade, 2018.