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VÍCIO  E LOGOTERAPIA

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O vício em ser viciado: quando a dependência se torna identidade

Muito além da substância ou do comportamento nocivo, existe uma forma silenciosa e poderosa de aprisionamento: o vício em ser viciado. Algumas pessoas, mesmo quando livres da substância, permanecem ligadas emocionalmente ao papel de vítima. Neste artigo, com base na Logoterapia de Viktor Frankl, vamos refletir sobre como o sofrimento pode se tornar um modo de vida — e como recuperar o sentido para quebrar esse ciclo.

Letícia Santana

28.abr.2025 | Tempo de leitura: 10 minutos

VÍCIO E LOGOTERAPIA

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O vício em ser viciado: quando a dependência se torna identidade

Muito além da substância ou do comportamento nocivo, existe uma forma silenciosa e poderosa de aprisionamento: o vício em ser viciado. Algumas pessoas, mesmo quando livres da substância, permanecem ligadas emocionalmente ao papel de vítima. Neste artigo, com base na Logoterapia de Viktor Frankl, vamos refletir sobre como o sofrimento pode se tornar um modo de vida — e como recuperar o sentido para quebrar esse ciclo.

Letícia Santana

28.abr.2025 | Tempo de leitura: 10 minutos

Quando pensamos em vício, é comum relacionarmos imediatamente à dependência química, como drogas ou álcool, ou à dependência emocional e digital. No entanto, há um aspecto ainda mais profundo que a psicologia e a logoterapia nos convidam a observar: o vício no sofrimento, o apego ao papel de vítima, o hábito de se ver sempre refém de algo, alguma circunstância ou alguém.

Esse comportamento, muitas vezes inconsciente, perpetua um ciclo destrutivo no qual a pessoa não apenas se vicia na substância, mas também na sensação de impotência, na dependência emocional e no drama que a sustenta.

Mas por que alguém se viciaria em sofrer?

Por que continuar em relações, padrões ou situações que causam dor, mesmo quando existe a possibilidade de mudança? Para responder essas perguntas, é preciso ir além da superfície. E é exatamente isso que a Logoterapia nos ensina a fazer.

Diferente do vício tradicional — onde existe um objeto claro de dependência, como substâncias, jogos ou relacionamentos — o vício em ser viciado está relacionado à compulsão em repetir padrões de dor, fracasso, autossabotagem e vitimização.

É quando o sofrimento passa a ser a identidade central do sujeito. O papel de vítima se torna confortável, conhecido, previsível. E mesmo que traga dor, ele evita a angústia existencial de assumir a responsabilidade por si mesmo.

Viktor Frankl, psiquiatra e fundador da Logoterapia, nos lembra que o ser humano pode suportar qualquer sofrimento se encontrar um sentido nele. Mas o que acontece quando o sofrimento se torna o próprio sentido?

O ciclo do vício emocional e da vitimização pode ser sutil, mas extremamente danoso. Ele geralmente se desenvolve a partir de traumas não elaborados, baixa autoestima, carência afetiva ou ambientes disfuncionais na infância. A pessoa passa a encontrar no sofrimento um lugar familiar.

Frases como: “Tudo sempre dá errado comigo.”, “Eu nunca sou prioridade.”, “Eu não consigo, não tenho força.” ou “Eu sou assim mesmo.”

São expressões clássicas de quem está preso nesse ciclo. A narrativa de fracasso passa a guiar decisões, justificar comportamentos e evitar mudanças.

Essa é uma forma de anestesiar a angústia de existir, de escolher, de ser livre. Ao viver no papel de vítima, o indivíduo transfere a responsabilidade da própria vida para os outros ou para o destino, evitando a dor de crescer, mas também impedindo a si mesmo de encontrar sentido e realização.

 

Vício e liberdade: uma questão de escolha

Frankl, sobrevivente de campos de concentração nazistas, sabia na pele o que era dor, perda e desumanização. Mesmo assim, ele defendia que, entre o estímulo e a resposta, existe um espaço — e nesse espaço está o poder de escolha do ser humano.

O vício em ser viciado rouba justamente esse espaço. Ele nos faz acreditar que somos apenas reação, que não temos escolha, que estamos condenados a repetir padrões eternamente.

Mas a verdade é outra: sempre existe um momento de liberdade interior. E mesmo em meio ao sofrimento, é possível escolher dar um novo significado à dor. Esse é o caminho da responsabilidade e da autenticidade.

Como identificar o vício em ser viciado?

Alguns sinais de alerta incluem:

    • Estar constantemente em relacionamentos abusivos ou tóxicos;
    • Repetir histórias de fracasso e injustiça, sem buscar mudança real;
    • Recusar ajuda ou tratamento psicológico;
    • Sabotar oportunidades de crescimento;
    • Sentir desconforto quando tudo está indo bem;
    • Usar o sofrimento como forma de se conectar com os outros;
    • Ter prazer inconsciente em ser “salvo”, mas nunca em se salvar.

É importante lembrar que tudo isso acontece, muitas vezes, sem plena consciência. Por isso, o acompanhamento psicoterapêutico é essencial para romper esse ciclo.

A Logoterapia oferece uma abordagem poderosa para pessoas presas nesse tipo de dependência. Ao invés de focar apenas no sintoma (o vício), ela convida o paciente a buscar o sentido por trás do sofrimento.

Frankl dizia que o ser humano não é movido apenas pelo prazer (como dizia Freud) ou pelo poder (como afirmava Adler), mas sim pela vontade de sentido. Quando essa vontade é frustrada, o vazio existencial toma conta — e é nesse vazio que o vício, o sofrimento e a vitimização encontram espaço.

A partir do momento em que o indivíduo se conecta com um propósito maior, com valores que transcendem sua dor, ele começa a recuperar sua liberdade interior. Ele deixa de ser vítima da história e passa a ser autor da própria vida.

Romper com o vício em ser viciado não é fácil. Envolve dor, esforço, consciência e, sobretudo, responsabilidade. Mas também é o caminho mais verdadeiro para uma vida com sentido.

Quando paramos de justificar nossa dor e começamos a entender o que ela está tentando nos mostrar, abrimos espaço para uma nova narrativa: mais livre, mais consciente, mais leve.

Você não é seu sofrimento. Você não é seu passado. Você não é o vício que te prende. Você é, antes de tudo, uma possibilidade de construção.

E como Frankl nos ensinou:

“A vida cobra de cada um um sentido único, que só ele pode realizar.”

Talvez seja hora de deixar o papel de vítima… e assumir o papel de protagonista.

Conheça a Santosclín

A Santosclín é a primeira clínica de Psicologia e Logoterapia do Vale do Paraíba, oferecendo um atendimento humanizado em psicoterapia e acessível para quem busca equilíbrio emocional, propósito de vida e autoconhecimento. Nossa missão é diminuir o índice de ansiedade e depressão da cidade em que atuamos, proporcionando um espaço acolhedor onde cada pessoa possa encontrar sentido para sua existência.

Na Santosclín, acreditamos que a transformação começa no interior de cada um. Se você busca um novo olhar sobre a vida, estamos aqui para caminhar com você!

Referências bibliográficas:

    • Frankl, Viktor E. Em busca de sentido. Vozes, 2017.
    • Frankl, Viktor E. A vontade de sentido. Vozes, 2018.
    • Gabor Maté. O reino dos viciados: compreendendo o vício além da substância. Zahar, 2022.
    • Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Zahar, 2001.
    • Young, Jeffrey E. Esquemas Mal Adaptativos e Terapia do Esquema. Artmed, 2008.

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