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AMOR E LOGOTERAPIA

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Uma reflexão sobre o AMOR à luz da Logoterapia

Neste artigo, você encontrará uma reflexão sobre o amor, o amar e o não amar. A Logoterapia, proposta por Viktor Frankl, enxerga o amor como uma experiência espiritual que permite ao ser humano transcender a si mesmo. Exploraremos como essa visão influencia nossas relações, a importância do amor autêntico e os desafios de permanecer em vínculos que causam sofrimento. A partir dessa perspectiva, buscamos compreender como o amor pode ser vivido de forma plena e significativa.

Letícia Santana

01.Fev.2025 | Tempo de leitura: 7 minutos

AMOR E LOGOTERAPIA

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Uma reflexão sobre o AMOR à luz da Logoterapia

Neste artigo, você encontrará uma reflexão sobre o amor, o amar e o não amar. A Logoterapia, proposta por Viktor Frankl, enxerga o amor como uma experiência espiritual que permite ao ser humano transcender a si mesmo. Exploraremos como essa visão influencia nossas relações, a importância do amor autêntico e os desafios de permanecer em vínculos que causam sofrimento. A partir dessa perspectiva, buscamos compreender como o amor pode ser vivido de forma plena e significativa.

Letícia Santana

01.Fev.2025 | Tempo de leitura: 7 minutos

O Amor

Sobre o amor, Frankl diz no seu livro Fundamentos Antropológicos da Logoterapia que o amor não cabe no reducionismo proposto em algumas escolas da psicologia. Ele não se basta na definição de ser meramente uma sublimação, apenas instinto sexual ou apenas uma emoção com impulsos biológicos que o ser humano experimenta, mas ele traz o conceito de que o amor é uma realidade espiritual, sentida em seu espírito. Quem ama é capaz de acessar a dimensão mais profunda e sair de si mesmo, caminhando em direção ao outro.

 

O Amar

A atitude de amar, em Frankl, acontece no movimento de sair de si e entregar ao outro o seu amor, olhar para o outro como seu ponto de deposito de amor. O movimento aqui acontece em uma dimensão espiritual, em uma dimensão mais profunda.

Quando se ama, contribui-se para a transformação do outro. É por meio do amor que a pessoa que ama consegue ver no ser amado o que está potencialmente contido nele, o que ainda não está aparente mas que deveria ser realizado ( Frankl, 2020).

Quem ama, por meio de seu olhar dirigido às potencialidades da outra pessoa, traz à luz o que é irrepetível e único no ser amado, para que ambos construam o relacionamento saudável que querem e precisam ter. A pessoa amada é amada pelo que ela é e não pelo que ela possui ou pode entregar a quem ama.

 

O não amar

Quando apesar do amor entregue ao outro a relação não consegue mais sustentar-se é preciso coragem. Coragem para se olhar e ver o que está em suas mãos, mas também para olhar e aceitar o que você não pode controlar e que só cabe ao outro realizar.

Se mesmo depois de diversas tentativas de amar o objetivo na relação não for alcançado há um ponto a se pensar.

Como propõe Frankl, se a situação não mudar, mude você. E você só muda a si mesmo se perceber que vale a pena este trabalho.

Manter-se em uma relação que cause sofrimento profundo e que acontece devido às ações do outro e ele não se propõe a amar de volta por motivos que não se sustentam, pois são passíveis de mudança, o sofrimento por isso torna-se evitável.

Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto

“O que quero dizer não é absolutamente que o sofrimento é necessário, mas que o SENTIDO É POSSÍVEL APESAR DO SOFRIMENTO, CONTANTO QUE ESSE SOFRIMENTO SEJA INEVITÁVEL, que não possa ser eliminado sua causa, quer biológica, psicológica ou social. UM SOFRIMENTO DESNECESSÁRIO REDUNDARIA EM MASOQUISMO E NÃO EM HEROISMO.”

A presença ignorada de Deus – p. 104

Quando o sofrimento é evitável e passível de ser cortado pela raiz não pense que você é obrigado a enfrentá-lo para achar sentido, se obrigar a ficar onde causa dor sendo que você tem um modo de sair é masoquismo. 

Aqui ressalto os conceitos de que um sofrimento evitável é aquele em que não há uma causa imutável biológica, psicológica ou social. Já o sofrimento inevitável é aquele em que uma causa imutável e mesmo com essa impossibilidade de fugir dele tem como encontrar sentido para viver ele (o sofrimento).

Não é a qualquer custo que se vive um sofrimento, e digo isso porque há situações em que viver o sofrimento evitável é o único modo que a pessoa sabe viver – e reconhecer isso requer coragem de se aceitar quem é e de dar um sentido diferente a esta relação.

O resquício da história que se foi.

Às vezes você não quer se curar porque a dor – o sofrimento- é o único elo que mantém sua união ao que você perdeu.  Você vive prolongando o sofrimento, ficando preso a certas situações mesmo sabendo que quando tomar consciência a situação mudará porque você já sabe que precisa acabar, entretanto não está preparado para acabar tudo de uma vez. Está sempre tentando reviver, na esperança de que dessa vez vai dar certo, como se dependesse exclusivamente do seu foco para mudar tudo.

O desejo de alcançar a concretização daquele relacionamento te faz suportar a dor – o sofrimento, e você vai cada vez mais se afundando neste poço profundo por querer viver o que idealizou.

Não deixe o sofrimento evitável ser o que te mantém onde você está. Você precisa estar ali por outros motivos. O sofrimento quando evitável deve servir como motivador de mudança e não de permanecer. 

Cuidado ao abrir a possibilidade de tornar o sofrimento evitável, ou até mesmo buscar viver o sofrimento inevitável, por tornar o sofrimento, seja ele qual for, como seu padrão de relacionamento. Ou seja, pensar que amar é sofrer mesmo e que você precisa sofrer para amar e ser amado.

Há situações que chegam ao fim e os envolvidos encontram uma maneira de viverem suas histórias baseadas em outro sentido.

O amor, o amar e o não amar não cabem somente em uma relação amorosa de um casal, mas também nas relações familiares e sociais. Toda a relação precisa ser construída e embasada em um sentido.

Referências Bibliográficas

  • FRANKL, Viktor. Em busca de um sentido: um psicólogo no campo de concentração. Tradução de Vera L. Ribeiro. 16. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2020.

  • FRANKL, Viktor. Fundamentos Antropológicos da Logoterapia. Tradução de Rejane Cristina Alves e Manuela Calvo. 2. ed. São Paulo: Leya, 2021.

  • FRANKL, Viktor. A presença ignorada de Deus: O sentido da vida e o sofrimento. Tradução de Ana Carolina Alho. São Paulo: Edições Loyola, 2020.

  • BECK, Aaron T. Cognitive Therapy and the Emotional Disorders. New York: International Universities Press, 1976.

  • Yalom, Irvin D. Existential Psychotherapy. New York: Basic Books, 1980.

  • JUNG, Carl G. Psychological Aspects of the Self. In: The Collected Works of C.G. Jung. Princeton University Press, 1971.

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