PSICOLGIA E LOGOTERAPIA
_
Felicidade e Propósito: Um Caminho de Sentido e Plenitude
A felicidade é uma questão que atravessa tempos, culturas e gerações. Todo início de um novo ano costuma nos trazer reflexões sobre metas e objetivos. Contudo, ao olhar mais profundamente para essas aspirações, percebemos que a felicidade, muitas vezes, é mal compreendida. Não se trata de um destino, mas de um processo construído no dia a dia, guiado por valores e propósito.
Letícia Santana
28.Jan.2025 | Tempo de leitura: 7 minutos
PSICOLOGIA E LOGOTERAPIA
_
Felicidade e Propósito: Um Caminho de Sentido e Plenitude
A felicidade é uma questão que atravessa tempos, culturas e gerações. Todo início de um novo ano costuma nos trazer reflexões sobre metas e objetivos. Contudo, ao olhar mais profundamente para essas aspirações, percebemos que a felicidade, muitas vezes, é mal compreendida. Não se trata de um destino, mas de um processo construído no dia a dia, guiado por valores e propósito.
Letícia Santana
28.Jan.2025 | Tempo de leitura: 7 minutos
Muitas pessoas associam felicidade à realização de grandes metas: um casamento, um emprego dos sonhos, ou uma conquista financeira. Porém, ao adotar essa visão, corremos o risco de transformar a felicidade em algo inalcançável. Viktor Frankl, criador da logoterapia, nos ensina que a busca por sentido na vida é o que nos conduz a uma existência plena. Para ele, a felicidade não é um objetivo final, mas um subproduto do engajamento com aquilo que dá sentido à nossa existência.
Essa perspectiva se contrapõe à visão de felicidade oferecida pela sociedade contemporânea, descrita por Zygmunt Bauman como “líquida”, caracterizada por relações e objetivos efêmeros, moldados por uma lógica de consumo. Nesse contexto, a busca incessante por prazer imediato muitas vezes resulta em insatisfação e vazio existencial.
O Propósito como Alicerce da Felicidade
Quando refletimos sobre felicidade, uma questão essencial surge: o que nos motiva a buscar nossos objetivos? Muitas vezes, somos influenciados por padrões sociais, influenciadores digitais ou convenções culturais que nos direcionam a metas superficiais. A felicidade, no entanto, exige um olhar mais profundo. Ela é construída quando encontramos propósito no que fazemos, e esse propósito, por sua vez, está frequentemente vinculado ao serviço ao próximo e à transcendência pessoal.
A transcendência, aqui, não se limita a questões espirituais. Trata-se de sair de si mesmo, de contribuir com o bem-estar alheio e de se sentir útil para a sociedade. Esse aspecto, frequentemente negligenciado, é fundamental para a felicidade duradoura.

O Papel da Espiritualidade e da Consciência Coletiva
Vivemos na geração mais livre e tecnologicamente avançada da história, mas, paradoxalmente, somos também a geração mais triste. O acesso a recursos como informação, entretenimento e consumo imediato não tem sido suficiente para preencher o vazio existencial que muitos experimentam. Estudos recentes têm demonstrado a importância da espiritualidade no bem-estar humano. Não se trata de religião em si, mas da capacidade de se conectar com algo maior, que transcenda a experiência individual.
Por exemplo, pesquisas na área da oncologia mostram que a fé pode melhorar a eficácia dos tratamentos. Na física quântica, há explicações para como a vibração emocional afeta o corpo físico. A espiritualidade, portanto, não é um detalhe, mas um pilar essencial para uma vida plena.
O Desafio do Equilíbrio e da Singularidade
Outro equívoco comum é acreditar que a felicidade está atrelada a uma fórmula universal. Não existe uma receita que funcione para todos. Cada indivíduo tem uma trajetória única e, por isso, a felicidade deve ser construída com base na singularidade de cada um. Isso exige autoconhecimento, autorresponsabilidade e o reconhecimento de que o ser humano é um ser bio-psico-social-espiritual.
Negligenciar qualquer um desses aspectos — como a saúde física, mental, social ou espiritual — pode comprometer a busca por felicidade. Por exemplo, problemas metabólicos ou deficiências vitamínicas podem afetar profundamente o estado emocional de uma pessoa, e esses fatores são frequentemente ignorados em prol de explicações exclusivamente psicológicas.

A Felicidade no Processo, Não no Resultado
A felicidade não é ausência de dor ou dificuldades. Pelo contrário, ela se manifesta na capacidade de enfrentar desafios com resiliência e significado. Enxergar propósito em momentos difíceis, como pagar um boleto da faculdade dos sonhos ou lidar com perdas, é uma forma de cultivar felicidade.
Isso não significa simplesmente “ser grato”. Gratidão é importante, mas felicidade é mais profunda: é a habilidade de caminhar com a dor, de encontrar sentido no sofrimento e de seguir em frente com coragem.
Falar de felicidade é falar de algo complexo e profundo, que vai muito além de metas e listas de realizações. É compreender que a felicidade é construída no cotidiano, por meio de escolhas conscientes, do engajamento com valores e propósitos e do equilíbrio entre os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais.
Ao final, a felicidade é uma jornada e não um destino. É um estado de espírito que nos acompanha à medida que buscamos viver com propósito, transcendência e conexão com o próximo. Como profissionais de saúde mental, nosso desejo é que todos possam encontrar esse equilíbrio e construir uma vida plena, mesmo em meio aos desafios inevitáveis da existência.
Felicidade: O que a PSICOLOGIA diz sobre ser feliz?
Referências Bibliográficas
- FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. 34ª ed. São Paulo: Editora Vozes, 2020.
- FRANKL, Viktor E. A vontade de sentido: Fundamentos e aplicações da logoterapia. São Paulo: Paulus, 2016.
- BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
- BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
- KIM, Sharon S.; KOENIG, Harold G.; BUYNEVICH, Michael. “Religion, spirituality, and mental health: Current perspectives”. Psychiatry and Clinical Neurosciences, 2020.
- KOENIG, Harold G. Medicina, religião e saúde: O encontro da ciência e da espiritualidade. Porto Alegre: L&PM, 2012.
- LYUBOMIRSKY, Sonja. A ciência da felicidade: Como alcançar a realização pessoal através da ciência e da psicologia positiva. São Paulo: Campus, 2008.
- SELIGMAN, Martin E. P. Florescer: Uma nova compreensão sobre a natureza da felicidade e do bem-estar. São Paulo: Objetiva, 2011.
- ENGEL, George L. “The Need for a New Medical Model: A Challenge for Biomedicine”. Science, vol. 196, 1977, pp. 129-136.
- VITOUSEK, Maren N.;
- MURPHY, W. Jack. “The biological, psychological, and social dimensions of human health and illness: Integrating biopsychosocial approaches”. Annual Review of Psychology, 1997.
- KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: Duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
- NIEBUHR, Reinhold. A Serenidade para aceitar as coisas que não podemos mudar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.