LOGOTERAPIA E PSICANÁLISE
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Freud e Viktor Frankl: Ficção, Realidade e a Busca pelo Sentido
A figura de Sigmund Freud divide opiniões: enquanto muitos o consideram o pai da Psicanálise, outros o veem como um escritor de ficção mais que um cientista da psicologia. Mas qual a verdade por trás dessa afirmação? E o que Viktor Frankl, fundador da Logoterapia, tem a nos ensinar sobre esse debate?
Harisson Santos
28.Dez.2024 | Tempo de leitura: 7 minutos
LOGOTERAPIA E PSICANÁLISE
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Freud e Viktor Frankl: Ficção, Realidade e a Busca pelo Sentido
A figura de Sigmund Freud divide opiniões: enquanto muitos o consideram o pai da Psicanálise, outros o veem como um escritor de ficção mais que um cientista da psicologia. Mas qual a verdade por trás dessa afirmação? E o que Viktor Frankl, fundador da Logoterapia, tem a nos ensinar sobre esse debate?
Harisson Santos
28.Dez.2024 | Tempo de leitura: 7 minutos
Freud é amplamente reconhecido como o criador do setting terapêutico moderno, aquele encontro “um a um” entre terapeuta e paciente que constitui a base da psicoterapia atual. No entanto, sua inspiração veio de um campo inusitado: as confissões sacramentais do catolicismo. Assim como o penitente abre sua consciência ao padre, Freud adaptou essa dinâmica ao campo secular, criando um espaço onde o paciente pudesse explorar suas dores psíquicas.
Apesar dessa contribuição inovadora, a psicanálise de Freud é marcada por influências filosóficas, especialmente de Friedrich Nietzsche. Muitos dos conceitos freudianos têm origem nas ideias do filósofo alemão, com Freud essencialmente “renomeando” temas filosóficos para encaixá-los em um modelo terapêutico. Essa abordagem gerou críticas, principalmente de seus próprios discípulos.

Vikor Emil Frankl, psiquiatra austríaco sobrevivente do holocausto.
Viktor Frankl, um dos mais destacados discípulos de Freud, seguiu um caminho próprio ao fundar a Logoterapia. Ao contrário de Freud, que focava na exploração do inconsciente e nos instintos, Frankl introduziu uma dimensão espiritual à psicologia. Ele rejeitava a visão determinista da psicanálise, que coloca o inconsciente como único regente das nossas ações, e argumentava que o ser humano é capaz de escolher e encontrar sentido mesmo em condições extremas.
Essa perspectiva não surgiu apenas de reflexão teórica, mas também de experiências vividas. Enquanto Freud desenvolvia sua teoria nos sofás de pelúcia da era vitoriana, Frankl formulou a Logoterapia na brutal realidade dos campos de concentração nazistas. Ele observou que, mesmo nas piores circunstâncias, os seres humanos demonstravam uma capacidade singular de transcender suas situações e encontrar significado.
Freud descrevia o homem como um ser dualista, composto por corpo e mente, com suas ações motivadas primariamente pelos instintos e desejos reprimidos. Frankl, por outro lado, defendia uma visão tridimensional: o ser humano é corpo, psique e espírito. Essa terceira dimensão é o que possibilita a autotranscendência — a capacidade de ir além de si mesmo e encontrar significado em relação aos outros e à vida.
Para Freud, as necessidades básicas e o inconsciente suprimido eram o foco central. Em contraste, Frankl criticava essa abordagem, apontando que a teoria freudiana não capturava a complexidade da condição humana. Em seu livro “Em Busca de Sentido”, Frankl refuta a ideia de que situações extremas eliminam as diferenças individuais, uma visão defendida por Freud. Frankl observou, nos campos de concentração, que as experiências extremas revelavam tanto os “porcos” quanto os “santos” em cada ser humano, destacando a singularidade de cada indivíduo.

Sigmund Freud, pai da psicanálise
A Logoterapia se destaca por sua abordagem holística e humanista. Ela não só reconhece as emoções e instintos, mas também valoriza a dimensão espiritual, algo ignorado pela psicanálise freudiana. Essa é a base para uma terapia que não só explora os traumas do passado, mas também ajuda o indivíduo a encontrar um sentido para sua existência.
Infelizmente, a Logoterapia ainda é pouco conhecida no Brasil, enquanto a Psicanálise continua a dominar o imaginário popular. A popularização da Logoterapia exige esforços para educar o público sobre seus benefícios e diferenças em relação à psicanálise. Mais do que nunca, é essencial oferecer uma psicologia que reconheça a totalidade do ser humano e que inspire esperança.
Confira o vídeo completo: Logoterapia vs Psicanálise
Referências Bibliográficas
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Frankl, Viktor E. Em Busca de Sentido. Editora Vozes, 2008.
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Freud, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos. Companhia das Letras, 2019.
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Nietzsche, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Editora Escala, 2012.
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Santos, Harisson. “Freud e Frankl: Reflexões sobre Psicologia e Ficção.”