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LOGOTERAPIA

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Honra, Sofrimento e Sentido: A Jornada de Viktor Frankl nos Campos de Concentração

“Temo somente uma coisa: não ser digno do meu próprio tormento.” A frase de Dostoiévski resume bem a jornada de Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, cujos desafios e reflexões no campo de concentração nazista deram origem ao bestseller Em Busca de Sentido. Este artigo explora os aspectos centrais de sua história e os princípios da Logoterapia, uma abordagem que ressignificou a experiência humana ao confrontar o sofrimento com propósito.

Harisson Santos

28.Dez.2024 | Tempo de leitura: 5 minutos

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Honra, Sofrimento e Sentido: A Jornada de Viktor Frankl nos Campos de Concentração

“Temo somente uma coisa: não ser digno do meu próprio tormento.” A frase de Dostoiévski resume bem a jornada de Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, cujos desafios e reflexões no campo de concentração nazista deram origem ao bestseller Em Busca de Sentido. Este artigo explora os aspectos centrais de sua história e os princípios da Logoterapia, uma abordagem que ressignificou a experiência humana ao confrontar o sofrimento com propósito.

Harisson Santos

28.Dez.2024 | Tempo de leitura: 5 minutos

Viktor Frankl era judeu, natural de Viena, e tinha a possibilidade de fugir para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, já que possuía um visto americano. No entanto, seus pais não tinham como escapar. Em um momento de indecisão, ele buscou orientação divina na Catedral de Santo Estevão, em Viena.

Ao sair de lá, encontrou um pedaço de mármore entre os escombros de uma sinagoga destruída. Esse fragmento continha parte do Quarto Mandamento: “Honra teu pai e tua mãe para que teus dias se prolonguem na terra”. Sentindo que essa era a resposta divina, decidiu permanecer ao lado de sua família, mesmo sabendo que isso significava enfrentar o horror dos campos de concentração nazistas.

Ao sair de lá, encontrou um pedaço de mármore entre os escombros de uma sinagoga destruída. Esse fragmento continha parte do Quarto Mandamento: “Honra teu pai e tua mãe para que teus dias se prolonguem na terra”. Sentindo que essa era a resposta divina, decidiu permanecer ao lado de sua família, mesmo sabendo que isso significava enfrentar o horror dos campos de concentração nazistas.

Vikor Emil Frankl, psiquiatra austríaco sobrevivente do holocausto.

Frankl fez uma promessa a si mesmo ao chegar no campo: “Aconteça o que acontecer, não iremos ao fio”. Essa expressão fazia referência ao suicídio, comumente praticado pelos prisioneiros ao se jogarem contra cercas eletrificadas.

Sua determinação tornou-se um pilar de sua teoria: a liberdade de encontrar significado na vida, mesmo em situações extremas. Frankl enfatizava que a liberdade interior é inviolável e que, mesmo aprisionado, o ser humano pode escolher a atitude com que enfrenta o sofrimento

Nos campos, Frankl e outros prisioneiros tiveram seus nomes substituídos por números; ele era o 119104. Todo status, roupas e pêlos corporais foram retirados, deixando apenas “a existência nua e crua”. Apesar de tudo, Frankl encontrava momentos de alegria: certa vez, os prisioneiros celebraram ao perceberem que caía água dos chuveiros em vez de ácido.

A indiferença diante da morte tornou-se comum. Prisioneiros pegavam roupas e sapatos dos mortos, como uma forma de sobrevivência. Em uma dessas ocasiões, Frankl encontrou no bolso de um casaco uma frase de Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti”. Essa ideia de busca constante por sentido sustentou sua resistência.

Santo Agostinho de Hipona, séc IV

Frankl observou que prisioneiros que conseguiam se conectar com valores transcendentes, como amor e fé, tinham mais chances de sobreviver. Ele próprio encontrava consolo em lembranças de sua esposa. “Sentia o toque de seus lábios e o perfume de sua pele”, escreveu.

Essa “ancoragem” em valores permitia suportar o sofrimento. Quando um prisioneiro lhe perguntou se sobreviveriam, Frankl respondeu: “A pergunta correta não é essa. Pergunte: ‘Há sentido nesse sofrimento?’”. Para ele, o sentido dava à vida um motivo para continuar, mesmo nas piores condições.

Frankl destacou que aqueles com vida interior rica eram mais resilientes. Ele chamava essa capacidade de “liberdade espiritual”, algo que nem mesmo o regime nazista podia tirar. Enquanto corpos eram aprisionados, mentes livres encontravam força na fé, na arte e nos valores pessoais.

Mesmo após a libertação em 1945, os prisioneiros enfrentaram dificuldades. Frankl comparava isso à pressão que um mergulhador sente ao retornar à superfície. Ele mesmo enfrentou pensamentos suicidas ao saber que sua esposa, que estava grávida, havia morrido, assim como seus pais.

Apesar disso, Frankl encontrou força em sua missão de ajudar outras pessoas a descobrir sentido em suas vidas, lançando Em Busca de Sentido poucos meses após sua libertação.

Frankl defendeu que a liberdade verdadeira exige responsabilidade. Ele sugeriu a construção de uma “Estátua da Responsabilidade” na costa oposta à Estátua da Liberdade nos Estados Unidos, simbolizando que uma não existe sem a outra.

Sua história não é apenas um relato de sobrevivência, mas uma inspiração para enfrentarmos os desafios da vida com coragem e significado. Afinal, como ele dizia, “A vida nunca deixa de ter significado, mesmo diante do sofrimento mais extremo.”

Confira o vídeo completo sobre o livro "Em busca de sentido"

 

Referências:
Frankl, V. E. (2007). Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração. São Paulo: Editora Vozes.
Dostoiévski, F. (2001). Memórias do Subsolo. São Paulo: Editora 34.
Agostinho, S. (1997). Confissões. Petrópolis: Vozes.

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